sexta-feira, 2 de outubro de 2009

1859 2009 SESQUICENTENARIO DE WILLIAM ENZTMINGER


O Jornal Batista de 10.01.2010

O MISSIONÁRIO WILLIAM EDWIN ENTZMINGER
25.12.1859 – 11.01.1930


Francisco Bonato Pereira
Pastor da Igreja Batista de Siriji (PE)

Fundador d‘O Jornal Batista”, seu primeiro diretor, músico sacro, escritor, pregador, historiador, missionário pioneiro batista em Per-nambuco e no Rio de Janeiro.

Os batistas brasileiros comemoraremos em 25 de dezembro de 2009, o 150º aniversário de nascimento em 1859 do pioneiro missionário William Edwin Entzminger, que dedicou trinta e nove anos da vida à pregação do Evangelho e à implantação do trabalho batista no Brasil.

Os batistas de Pernambuco, mais que outros, temos motivos para celebrar esta data, porque foi em Pernambuco que Entzminger primeiro serviu a Deus, pregando o Evangelho de Cristo através da palavra e da música. Chegando a Pernambuco, atingido pela enfermidade da esposa e pela morte dos dois filhos, não desanimou, antes teve a fé revigorada e trabalhou na Seara do Senhor, reorganizando a Igreja Batista do Recife (mais tarde PIB Recife, mãe das igrejas batistas de boa parte do Nordeste, tarefa partilhada com o outro pioneiro Salomão Ginsburg), organizou a Igreja Batista de Nazaré da Mata e por dez anos espalhou a semente santa nesta terra do Leão do Norte e das Alagoas.

O missionário William Edwin Entzminger, com Ginsburg e outros líderes, idealizaram a publicação d‘O Jornal Batista’, hoje centenário órgão noticioso, informativo e doutrinário, dos batistas do Brasil, do qual, durante dezenove anos foi seu diretor e redator, suprindo os batistas brasileiros de material informativo, doutrinário, histórico e didático para a Escola Bíblica Dominical, numa época em que não tínhamos literatura, senão as lições publicadas n‘O Jornal Batista’.

A VIDA DE ENZTMINGER

William Edwin Entzminger nasceu em Blythwood, na Carolina do Sul, EUA, em 25 de dezembro de 1859, dia comemorativo do Natal de Cristo. Seu pai, fazendeiro, era de ascendência holandesa e William era muito estudioso e inteligente, tornando-se dono de uma cultura invulgar.

Entzminger se converteu aos doze anos de idade. Ingressou na Universidade de Furman, Carolina do Sul (USA), onde recebeu o grau de Bacharel em Ciências e Letras e, depois, no Seminário Teológico Batista do Sul, em Louisville, Kentucky (USA), recebendo o grau de Doutor em Teologia, sendo o primeiro missionário no Brasil com essa graduação.

A chamada Entzminger para missões ocorreu em 1891, ao ouvir um missionário da China. A decisão para trabalhar no Brasil, Deus o guiou ao Brasil pela leitura do folheto A Terra do Cruzeiro do Sul, escrito por Z. C. Taylor (Mulholland, Edith B. HCC, Notas Históricas, JUERP, 2001, p. 83).

WilIiam Entzminger casou com Maggie Grace Griffith, filha de um pastor batista, em abril de 1891. No mesmo ano o casal se apresentou à Junta de Richmond, com o propósito de ajudar os casais Bagby e Taylor. Aceitos foram nomeados o jovem casal partiu para o Brasil em julho de 1891, no navio Valência, junto com outros dois casais de missionários, chegando a Salvador em 11 de agosto.

O casal Entzminger nunca gozou de boa saúde no Brasil. Foram atingidos, de inicio, por várias doenças tropicais, como a febre amarela e malária, em Salvador (BA), razão porque mudaram para Pernambuco. No Recife, onde Entzminger trabalhou algum tempo com Salomão Ginsburg, na reorganização da Igreja Batista do Recife e na organização das Igrejas Batistas de Goiana (1892), de Nazaré da Mata (1896) e de Cachoeira (1889), Grace foi atingida pela febre amarela. O casal ainda sofreu a perda dos dois filhos - Margaret (1892) e William Edwin Junior (1894), falecidos em decorrência da febre amarela – sepultados no Cemitério dos Ingleses. No Rio de Janeiro, William foi atingido pelo mal de Hansen. Mesmo assim, depois de sete anos de atividades de Entzminger, o campo de Pernambuco (incluindo Alagoas e Rio Grande do Norte) tinha sete igrejas com mais de 500 membros.

Os Entzminger se mudaram para Nova Friburgo, fixando residência na região serrana do Rio de Janeiro, em razão do estado de saúde de Grace, enquanto Entzminger trabalhou no Rio de Janeiro. Naquele campo Entzminger ajudou na organização das igrejas de Niterói, Méier e Engenho de Dentro (hoje 2a IB Rio de Janeiro).
Entzminger nunca deixou de estudar a língua nacional, sendo grande apreciador dos clássicos portugueses. Sua vida era de oração e de fé, fato manifestado na sua atitude quando esteve acometido de lepra e, desenganado pelos médicos, orou pedindo de Deus a cura, como ocorreu. Homem dedicado ao ministério, era um bom orador, que refletia grande conhecimento das Sagradas Escrituras, idôneo, foi escolhido como pessoa capacitada para ser redator do jornal da denominação. Theodoro Teixeira falando a respeito do primeiro número de O Jornal Baptista, disse: “A Entzminger cabe a parte do leão” dos lauréis. Cabendo-lhe ser o primeiro diretor da Casa Editora Baptista (JUERP), e por sua dedicação e esforço passou de Editora para Publicadora e superou dificuldades.

Entzminger contribuiu com a publicação de diversos livros, como - Haverá Bíblias Falsas? -, que contribui para o crescimento da obra batista no Brasil. Ainda publicou (1919), com dificuldade, o primeiro hinário com música dos batistas - Lyra Cristã. O nosso Cantor Cristão traz setenta e duas (72) letras e traduções de hinos de sua autoria e muitas das edições do CC somente foram publicadas por seu esforço e dedicação. Por onde andava, nos cultos, podia se ouvir “aquela voz forte e vibrante, cantando hinos” (OJB, 10 de julho de 1919, p.12).

No ano de 1920, quando o casal Entzminger viajou de férias aos Estados Unidos, o estado de saúde de Grace declinou, falecendo ali companheira. Somente sua lealdade à chamada divina tornou possível a permanência de Entzminger no Brasil. Quando a mudança do clima não trouxe melhora para sua saúde, e seu marido decidira pedir demissão para levá-la de volta aos Estados Unidos, Grace, que apesar da saúde tinha trabalhado fervorosamente na formação e crescimento da União Feminina Missionária, decidiu “não abandonar o seu posto de serviço, custasse o que custasse”. Grace foi uma dos muitos missionários pioneiros que, no Brasil, deram a vida para levar o Evangelho de Cristo a esta grande e querida nação brasileira.

Viúvo, William Entzminger casou, dois anos depois (1922) com Amélia Charlote, missionária, viúva de Tomas Collin Joyce, inglesa, que havia trabalhado na Bahia (OJB, de 15 de janeiro de 1967, p. 5).

William Entzminger foi chamado à presença do Senhor as 13:30 horas do dia 11 de janeiro de 1930, em sua residência em Petrópolis (RJ), sendo sepultado o seu corpo no Cemitério Municipal. Havia servido ao Reino de Deus e à causa do Evangelho no Brasil por 39 anos (Betty Antunes de Oliveira, OJB, 13 de janeiro de 2002).

O Hinário para o Culto Cristão (HCC) incluiu 21 letras e traduções de Entzminger, fazendo dele o “segundo maior escritor de hinos entre os missionários pioneiros ao Brasil”, abaixo apenas de Ginsburg, autor de mais de cem letras desse hinário batista.

A OBRA DE ENTZMINGER

Embora não se posse separar a vida de William Entzminger da sua obra missionária no Brasil, há algumas tarefas por ele executadas que merecem maior destaque: (a) a reorganização da Igreja Batista do Recife (1892); (b) a organização das igrejas batistas de Goiana (1894) e Nazaré (1896) e Cachoeira (1899), em Pernambuco; (c) fundou e dirigiu por dezoito anos o Jornal Batista; (d) dirigiu a Casa Publicadora Batista; (e) colaborou na organização das igrejas batista de Niterói, Méier e Engenho de Dentro (hoje 2a Igreja Batista do Rio de Janeiro).

1. A reorganização da PRIMEIRA IGREJA BATISTA DO RECIFE (1892), quando chegou ao Recife, Entzminger veio da Bahia, junto com Salomão Ginsburg, começaram a agregar os antigos membros da igreja, dispersos desde o incidente havido entre Melo Lins e Zacharias Taylor (1888).

O trabalho persistente de Entzminger, na busca das ovelhas extraviadas, logrou trazer ao rebanho cerca de vinte membros antigos enquanto o dinamismo de Salomão Ginsburg, já conhecido no Recife, na pregação do Evangelho de Cristo, acrescentou ao grupo cinco novos convertidos. O ato de reorganização da Igreja ocorreu em 25 de julho de 1892, com a presença vinte e nove batistas, inclusive os missionários, sendo eleita na ocasião diretoria da Igreja: William Edwin Entzminger (pastor), Antonio Pacheco (secretário), Manuel Henrique da Silva (tesou-reiro) e João Batista de Oliveira (diácono). (Crabtree, Asa R. História dos Batistas no Brasil, p. 97). A reorganização da Igreja ocorreu na residência do escocês Gillespie, no Cais do Ramos (hoje Rua do Imperador). A Igreja mudou-se para a Rua das Hortas, nº 18 (hoje parte da Avenida Dantas Barreto) e depois para a Rua da Aurora, 43, 1º, na Boa Vista e, finalmente, para o templo próprio na Rua Formosa, atual Avenida Conde da Boa Vista.

2. A organização da IGREJA BATISTA DE NAZARETH (PE), na mata norte do Estado, em 12 de janeiro de 1896 pelo missionário Entzminger, dezesseis membros. Era comunidade foi fruto, inicialmente, da pregação do Evangelho de Cristo pelo missionário presbiteriano John Rockwell Smith e seu auxiliar Alexandre Gama. Retirando-se os presbiterianos do campo e iniciado o trabalho batista em 15 de março de 1895, teve o apoio integral desses convertidos e de outras pessoas, que batizados, por imersão, em 15 de julho de 1895. A comunidade batista progrediu de modo rápido e se desenvolveu sendo organizada em dia 12 de janeiro 1896, com o nome de Igreja de Christo, denominada Baptista, organizada na Cidade de Nazareth, com dezesseis membros: Manoel Cypriano de Lima, João Borges da Rocha, Manoel Paulino, Manoel Geraldo da Silva, Manoel Francisco da Silva, Benedicto Pereira Moreno, Amaro José do Nascimento, Arthur Neves, Antonio João, Jose Martins (da Silva), Francisco Campello, Maria da Rocha, Eliza Maria Evangelista, Francisca Baptista, Maria (Rosa) Osória Queiros e Maria Alves Baptista. O Concilio de organização foi dirigida pelo missionário Entzminger, servindo como secretário o pastor Mello Lins. Na ocasião o missionário William Entzminger foi escolhido pastor da Igreja e enquanto João Borges da Rocha eleito diácono (Ata de Consti-tuição da Igreja de Christo, denominada Baptista, na cidade de Nazareth).

3. A organização da IGREJA BATISTA DE GOIAA (PE), na mata norte do Estado, distante sessenta quilômetros do Recife, ocorreu no final do ano de 1892, especialmente pelo trabalho de evangelização de dois jovens discípulos de Entzminger - Emigdio Bento Alves e Juvêncio Índio do Brasil. O missionário Entzminger fez duas visitas, tendo batizado vários convertidos e nessa segunda visita, em fins de 1892, organizou essa igreja com sete membros, ficando sua diretoria assim constituída: pastor William Edwin Entzminger, diácono Jose Sabino, secretário e tesoureiro Miceno Rodrigues da Silva, evangelista Miguel Rezende (Mesquita, Antonio Neves. Historia dos Batistas em Pernambuco, p. 27).

4. A organização da IGREJA BATISTA DE NATAL RN). Havia em Natal (RN) uma Igreja Presbiteriana, fruto da pregação do missionário John Rockwell Smith. Um grupo de membros dessa discordou de medidas tomadas por ministros e separaram-se, organizando uma congregação independente sob a direção do professor Joaquim Lourival da Câmara. Depois de algum tempo chegando à conclusão de que suas convicções se assemelhavam às dos batistas, mantiveram contato com o missionário Entzminger, que enviou o pastor Melo Lins a Natal (outubro de 1892), onde esteve por duas semanas pregando e doutrinando a congregação. No final do período ministrou o batismo bíblico a onze (11) pessoas, inclusive o professor Lourival Câmara.
Em dezembro chegou ao Recife o professor Lourival Câmara, o qual passou uma semana estudando com o missionário Entzminger, foi consagrado ao ministério pastoral em 8 de dezembro de 1892, para servir a Igreja Batista de Natal. A Igreja Batista de Natal foi organizada em dezembro de 1892, pelo pastor Melo Lins, ocasião em que batizou duas pessoas e organizou a Igreja que elegeu o pastor Lourival Vilanova.
5. A fundação do Jornal Batista. Entzminger foi escolhido entre a liderança batista para organizar o Jornal Batista e fê-lo com sua capacidade. Durante quase dezenove anos, serviu como seu diretor e redator, fornecendo aos batistas do Brasil uma publicação que trazia noticias, ensinamentos doutrinários, dados históricos e, até, lições da Escola Bíblica Dominical.

6. Subsídios para a HISTORIA DOS BATISTAS. Entzminger registrava em seus relatórios a maior parte dos fatos e eventos ocorridos no seu campo e no seu ministério. Esse material, fonte primária para a Historia dos Batistas em Pernambuco (incluindo Alagoas e Rio Grande do Norte) no Rio de Janeiro e no Distrito Federal (campo carioca) ele publicou n‘O Jornal Batista”, ao longo do ano de 1927 (OJB, edição de 15.09.1927, p. 8-9 a 29.12.1927, p. 10). O pastor Antonio Neves Mesquita, ao escrever a Historia dos Batistas em Pernambuco (1930) e a Historias dos Batistas no Brasil, tomou emprestado esse material, publicando-o na íntegra, acrescentando-lhe apenas as aspas: “O Dr. W. E. Entzminger escreveu há pouco no Jornal Baptista uma serie de artigos sobre o começo do trabalho Baptista em Pernambuco (e no Brasil) cujos artigos tomei a deliberação de incorporar neste trabalho, com a devida permissão do autor”.

7. O CANTOR CRISTÃO. Entzminger tem uma participação na edição do Cantor Cristão maior do que qualquer batista no Brasil, excetuado o seu companheiro Salomão Ginsburg. Alem das letras hinos que escreveu e traduziu, integrou a Comissão de Revisão de Hinos do Cantor Cristão (OJB, 02 de novembro de 1911, p. 2), juntamente com Salomão Luiz Ginsburg, Otis Pendleton Maddox, Amélia Joyce e Emma Paranaguá, nomeados na assembléia da Convenção Batista Brasileira, realizada em Campos (RJ).

Roberto Torres de Holanda, o autor do Dicionário de Música Evangélica, sob o pseudônimo de Rolando de Nassau, ao escrever “Hinos de Enztminger” analisa, de forma completa a participação desse servo de Deus na musicografia batista brasileira (OJB, de 27 de julho de 2003, p. 4), onde diz, entre outras coisas: “Depois de Salomão Luiz Ginsburg, foi o maior hinógrafo entre os missionários no Brasil. Entzminger escreveu, traduziu ou adaptou 72 letras de hinos para o "Cantor Cristão"(CC). Dos 72 hinos, menos de um terço deles (21) foram aproveitados no ‘Hinário para o Culto Cristão’ (HCC)”. Alguns deles escritos em momentos de dificuldade pessoal, como após a morte dos filhos e depois da cura do mal de Hansen, em 1908, quando “traduziu o hino ‘It is well with my soul’, de Horatio Gates Spafford (CC-398, HCC-329). Tendo passado por grande provação, Entzminger, tal como Spafford (que perdeu quatro filhas no naufrágio do transatlântico "Ville du Havre"), poderia escrever: “Se paz a mais doce me deres gozar, se dor a mais forte sofrer, oh! seja o que for, Tu me fazes saber que feliz com Jesus sempre sou!”. Este hino foi publicado em OJB (05 nov 1908, p.1), pouco tempo depois do "The Baptist Hymn and Tune Book" (1904)”.

Textos como esse artigo Roberto Torres de Holanda merecem ser republicados periodicamente para conhecimento das novas gerações de batistas, para recordar da vida e da dedicação de servos de Deus, como William Edwin Entzminger, o qual, como as testemunhas de Cristo, mesmo depois de mortos ainda falam, com suas vidas, do grande amor de Deus e do sacrifício do nosso Salvador Jesus Cristo, a quem toda honra e glória seja tributada. Amém!